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terça-feira, 27 de abril de 2010

Conto: O construtor de castelos.

Na minha rua tinha uma casa onde morava um velho senhor, vivia sozinho ao que parecia, não tinha ninguém além de si mesmo. Tinha dias que eu o via passando com compras numa sacola, mas nem chegava a lhe perguntar nada. Ele andava com certa dificuldade, tinha olhos pequenos como quem tivesse medo de enxergar a situação que vivia. Usava uma bengala, e sempre estava vestido formalmente. Era um senhor de respeito.

Outro dia minha mãe me pediu para que eu fosse deixar uma torta para aquele senhor, pois ela tinha ouvido falar que ele gostava de tortas. Nem pensei muito e corri pra fazer o mandado. Oras, era a oportunidade que eu queria para poder saber alguma coisa sobre a vida daquele homem tão solitário. Quando cheguei no portão de sua casa vi que tinha uma placa, avisando que era proibida a entrada de estranhos o jeito que teve foi eu gritar. E gritei. Até que ele apareceu na janela e me pergunto: o que queres menino? Ai eu disse; aqui está uma ótima torta de morango que minha mãe mandou para o senhor. Logo vi que ele regalou os olhos, era o sabor de tortas preferidas dele.

Então ele veio e abriu o portão, agarrou a torta como se ela quisesse fugir. Então eu perguntei o seu nome, ele disse que não tinha nome. Estranhei, e perguntei; como não tens nome, toda pessoa tem nome e precisa de dele. Ele respondeu novamente; não tenho nome. Naquele momento ele já estava ficando zangado, com isso, preferi não lhe perguntar mais. Resolvi ir embora sem ter descobrir nada sobre aquele senhor.

Quando me viro e peço licença pra ir embora, ele me convida a fazer um passei pelo quintal de sua casa, para retribuir por eu ter lhe trazido a torta. Nossa, quase morri de alegria. Era tudo que eu queria. Então logo na entrada percebi que tinha mesmo escondido, um belo jardim naquele casa, incrível, ali tinha um jardim. Fui até mais aos fundos da casa, e ali tivesse a maior surpresa de minha vida. Ali tinha um castelo. Juro, era um pequeno castelo feito de pedaços de tijolos velhos e telhas quebradas. Fiquei completamente encantado, pois mesmo que simples, aquilo era um castelo bem ali, perto de mim. Perguntei ao velho homem; foi o senhor quem construiu esse castelo? Ele disse; sim, foi eu, demorou um certo tempo mas fiz. Perguntei-lhe então; posso entrar nele? O velho disse; sim, mas cuidado não quebre nada.

Entrei naquele pequeno espaço feito a mãos, e vi que dentro dele a magia ainda era maior, era lindo. Um grande castelo. Fiquei horas, ali dentro, apenas ouvindo o barulho que vinha lá de fora. Parecia que eu estava hipnotizado, perdi a noção do tempo, da vida e tudo mais. Eu estava feliz, como uma criança em seu castelo.

De repente, ouço gritos, era minha mãe me chamando. Sai rapidamente de dentro do castelo, e pra minha surpresa, não encontrei o velho senhor. Fui até a janela da casa, entrei pela porta que estava aberta, e não encontrei ninguém. Fiquei triste. Fui embora sem saber o que tinha acontecido com aquele senhor. Nem seu nome eu tive o direito de saber, ele parecia que tinha sumido ou nunca tivesse existido.

Fui pra casa, meio desconfiado. Um pouco confuso e ainda preocupado. A única coisa que consegui descobrir sobre aquele senhor de bengalas e de olhos pequenos, é que ele era um construtor de castelos.


José Borges.
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