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terça-feira, 24 de agosto de 2010

Corpos novos ou Memórias de um sobrevivente.



Garrafas vazias sobre a mesa
alertam-me para uma guerra,
dizem muito mais que palavras
e ardem muito mais que brasa,
inundam os devaneios de loucuras
assim como aceleram o coração embriagado.

Garrafas, copos, talheres sobre o pano de mesa
me lembram a noite passada
e todos os seus doces sabores.

Cansado, percebo os poucos que ainda vivem.
corpos espalhados pela noite
em busca de um seio
que não seja fonte de pecado.

Corpos e mais corpos encilhados,
amontoados uns sobre os outros.

A fome se alastra, assim como peste em lavoura.
A água falta, assim como beijos da pessoa amada.
A violência aumenta, assim como mentiras em jornais.

Garrafas vazias me lembram amigos,
conversas, jogos, músicas, besteiras...
Preenchem-me rapidamente
e quando vejo,
já estou cheio delas.

Garrafas me tocam, me ferem.
Sonhos me chegam, se partem.
Beijos me faltam, me secam.
Amores me negam e me silenciam.

No horizonte apenas a certeza
que tudo passa,
e por estes caminhos secos e espinhentos
vou me espojando, ainda que não queira.
E a sede me seca. A vida me leva
preso e desesperado,
sem vontades ou desejos.

Termina o dia, e o sino toca seu último refrão.
As torres padecem, os mortos diluem-se putrefatos,
assim como fumaça ao vento.

E não sei, outra coisa nasce...


José Borges Neto.
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