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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A névoa.

Vá com calma meu senhor
Pode ser que esse não seja o seu trem
Sente-se mais um pouco nesse velho banco
Há muito tempo que nele não senta ninguém.

Tenha paciência sei que precisa partir
Sei que há muito tempo queres fazer isso
Só peso que deixe pelo menos tua lembrança
Sei que sua pele está velha e cansada
Que seus cabelos estão brancos
Brancos assim como a névoa da madrugada.

Tenha paciência ainda precisamos conversar.
Lembra de quando eu me perdia nas palavras?
Lembra de como eu gostava de ficar em silêncio
Pois em silêncio eu podia ouvir melhor seus ensinamentos
Pois eu era o aluno que ficava em silêncio.

Deixe-me sentar-se ao seu lado
Vou esperar que a máquina cheque
Vou esperar que a máquina passe
Vou ficar sentado nesse banco
Por que nem quero lembrar sua ausência
Quero apenas lembrar suas mãos em minhas mãos
Prefiro não ver mais as madrugadas
Elas me lembram algo estranho
Elas me lembram o fim.

A luz está cheia e as noites vazias como eu
Meu velho, meu velho e velho, o que sobrou
Hoje não durmo mais sem antes chorar
Será que alguém já esqueceu?
Largue aquele lenço encharcado de lágrimas
Deixe o tempo sana sua alma
E deixe sua alma leve como o vento
Ouça, mas tudo bem são meus passos nas escadas.

Olhe, agora é minha vez
Já demorei demais nesse banco
Ouço que meu trem se aproxima
Assim como tu fizestes um dia meu velho
Eu também estou com as madrugadas na cabeça
Foi tão rápido o ontem, o hoje, o amanhã.
E antes que eu esqueça
Obrigado pelas flores
Meu velho.


José Borges.

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